Canibais de nós mesmos
rappiano
Canibais de nós mesmos, Ainda que com reservas, Com um curto gládio, apunhalam-se, apunhalam-te, apunhalam. E vai do trapézio ao dorso, das partes altas as baixas. Enquanto isso, vou afogando a solidão no mar, Projetando ao fundo o olhar, Que ainda não pude ser capaz de superar, A linha do horizonte tão almejada e temida, Na lembrança da impaciência de quem não acredita, Vejo os poetas que vão como folhas que caem, Que endurecem e subjaz Observo oportunistas e algozes, que como a serpente, esperam a hora oportuna. Vejo os anos que se passam e vou contanto um a um, Vejo as coisas envelhecerem, o corpo inchar, o rosto enrugar, A chuva ácida e cálida que cai, a chuva que escassa está. É tempo de escassez, e eu feliz porque Deus olhou para mim e para você.